PROJETO "AQUI A VISTA É BELA" GRAFITA MUROS DO RESIDENCIAL
Grafiteiros coloriram as casas do residencial localizado na zona norte de Londrina
Meticulosamente, com o spray lambuzando uma camada grossa de tinta, Napa, 29, grafita o muro de uma residência no residencial Vista Bela, na zona norte de Londrina. Junto dele, outros artistas londrinenses como Carão, 37, alternam espirradas de tinta para reproduzir impecáveis retratos de mulheres.
Esse foi o quadro do evento "Colorindo Vida", que levou grafiteiros a trabalharem desde a manhã deste domingo (10) no residencial. Cores e desenhos tomaram os muros de cerca de dez casas da rua Eugênia Gonçalves Moreno.
É o último trabalho do projeto "Aqui a Vista é Bela", segundo o rapper e coordenador da ação, Leandro Palmerah. Duas outras ações de grafitagem já foram feitas em CMEI (Centros Municipais de Educação Infantil) no Vista Bela e no conjunto Maria Celina, também na zona norte.
"A ideia veio do Rio de Janeiro, de um projeto chamado Meeting of Favela (encontro da favela). Abracei a ideia, faz tempo que queria fazer isso", contou Palmerah. Com o objetivo de melhorar a estética e realizar atividades culturais, o evento revitalizou o espaço de quem vive em um bairro menos prestigiado em termos financeiros.
Os grafites são cortesias dos autores. O projeto tem o apoio do Promic (Programa Municipal de Incentivo à Cultura) e do Cras (Centro Regional de Assistência Social). "É Promic, dinheiro público, nosso, que volta para nós", afirmou Palmerah. O rapper admite que houve o receio pela receptividade dos moradores. "Ficamos com medo da comunidade não querer, eles não conhecem o grafite, é uma arte marginalizada, sofreu um pouco de resistência. Mas teve uma galera que topou fazer e ficou bonito."
O material usado pelos artistas veio do Promic, de acordo com Palmerah. "O resto é por nossa conta, refrigerante, água". Além dos grafiteiros de Londrina, artistas de outras localidades foram convidados. Crianças na rua, algodão doce, música e arte. Esse foi o cenário de domingo no bairro. A cultura veio também por contação de histórias, dança, apresentações circenses, musicais e exposição fotográfica.
Patrícia Braz Campos, 34, apreciou a transformação das casas pelas pinturas nos muros. "Eu achei muito legal. Muito lindo", disse. Ela, que autorizou a pintura do muro da casa de sua mãe, disse que "contrataria até para fazer do lado de dentro da casa".
Simpático, Zion, artista de Apucarana (Centro-Norte), aplicava um spray branco para fazer os dentes separados de seu filho em um retrato no muro. "Ele é cabeludo", contou, ao olhar para o desenho. A convite de Palmerah, o grafiteiro, que pinta desde 2013, veio a Londrina para treinar e reencontrar amigos. "Eu trabalho na ferrovia lá em Apucarana, tinha tempo vago e eu vim", contou.
A moradora Florisnei da Silva concordou que as pinturas são muito bonitas, mas lamentou que sua casa não tinha muro suficiente para fazer um desenho porque "não é rebocado ainda". "Esses bairros precisam de ações assim, foram esquecidos."
O artista Hugo Rocha, 37, caprichava nas cores. Sem se espelhar em qualquer rascunho, ele borrifava a tinta conforme o desenho surgia em sua mente. "No começo parece que não vai sair nada, dá até medo. Vou fazendo, compondo, no início desse desenho não tinha imaginado fazer essas folhas", lembrou. Experiente, Rocha disse que "se pegar firme", consegue terminar o grafite em até seis horas. "Faço isso há uns 17, 18 anos. Talvez mais, não sei".
O grafiteiro Napa também está no ramo há longa data. Ele, que é da zona norte, pinta há 15 anos. Para o artista, eventos desse tipo iluminam o bairro. "Ainda mais aqui no Vista Bela, tem muita criança. É o dia em que eles conseguem ter um momento de lazer, a comunidade consegue conversar mais."
"Agu" e Matheus Zulian, grafiteiros da zona norte, também deixaram arte nos muros ressaltando que o evento era bom para a comunidade. O primeiro fez um retrato de uma mulher. O segundo, de um sapo. "Onde tiver um muro sobrando a gente grafita. A gente pergunta certinho antes para não ter problema", disse Agu, também conhecido como "Sabotage".
"A gente faz um rascunho antes. É complicado, não é só chegar e jogar, não", disse, enquanto mostrava um caderno de desenhos. Ele grafita a pouco menos de dois anos. "Mas sempre desenhei e pintei telas e camisetas", lembrou.
O renomado artista Carão concorda com a importância de um ato assim para aquela comunidade. "Essas pessoas às vezes não têm condição de pintar a casa. Isso é pouco para a gente, é tranquilo fazer. Só precisa de iniciativa."
Isabela Fleischmann
Reportagem Local
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